domingo, 29 de janeiro de 2012

Santo Agostinho e os Mundos Regeneradores


Santo Agostinho por Caravaggio

16. Entre as estrelas que cintilam na abóbada azul do firmamento, quantos mundos não haverá como o vosso, destinados pelo Senhor à expiação e à provação! Mas, também os há mais miseráveis e melhores, como os há de transição, que se podem denominar de regeneradores. Cada turbilhão planetário, a deslocar-se no espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo seus mundos primitivos, de exí1io, de provas, de regeneração e de felicidade. Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora destinada.

17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se. Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita eqüidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis. Nesses mundos, todavia, ainda não existe a felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade. O homem lá é ainda de carne e, por isso, sujeito às vicissitudes de que libertos só se acham os seres completamente desmaterializados. Ainda tem de suportar provas, porém, sem as pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante ditosos e muitos dentre vós se alegrariam de habitá-los, pois que eles representam a calma após a tempestade, a convalescença após a moléstia cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem divisa, melhor do que vós, o futuro; compreende a existência de outros gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, a fim de lhes outorgar a verdadeira vida. Então, liberta, a alma pairará acima de todos os horizontes. Não mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de um perispírito puro e celeste, a aspirar as emanações do próprio Deus, nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam.

18. Mas, ah! nesses mundos, ainda falível é o homem e o Espírito do mal não há perdido completamente o seu império. Não avançar é recuar, e, se o homem não se houver firmado bastante na senda do bem, pode recair nos mundos de expiação, onde, então, novas e mais terríveis provas o aguardam. Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóbada azulada e, das inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que conduzem a Deus e pedi-lhe que um mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação na Terra. – Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

ALLAN KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. Cap. III - Há muitas moradas na casa de meu pai.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Poeta Herlen Lima: A Era Nova


Em meio à escravidão no antigo Egito,
Surge um enviado do “Deus Divino”
Era Móises, o grande legislador,
Que veio mudar o destino dos hebreus sofridos,
E revelar também aos povos pagãos
A existência de um deus único;
“O destruidor dos iníquios”...
Séculos depois,
Na Jerusalém desolada pela guerra,
Termina a grande espera.
Contempla-se a Jesus;
Que fora previsto pelos profetas,
Como o libertador da prometida Terra...
Ele tinha um amor infinito,
Mas foi desprezado pelos seus
Sendo levado à cruz do martírio,
Aonde se sacrificou;
Em favor de seus amigos,
Em favor da eterna mensagem,
Do Evangelho divino,
Que prometia a vinda do consolador,
O cristianismo redivivo!...
O Cristo estava a par da situação,
Pois na França da grande Revolução
Veio o mestre Allan Kardec,
Trazer-nos grata revelação;
Foi em Paris a 18 de abril de 1857
Que raiou no velho mundo,
O alvorecer de uma era celeste...
Era o Livro dos Espíritos!
Que descia do espaço,
Das esferas do Cordeiro amado
Para conceder aos Homens a grande viagem,
Rumo aos ideais mais elevados
Com bases na razão e na caridade!

[Herlen Marinho de Lima. Poemas e flores. Brasília: Otimismo, 2010.]

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Carnaval na visão espírita (1933)


Américo Ferreira de Almeida. REFORMADOR, Carnaval, 1º de março de 1933, p. 126.


A supressão do carnaval, festa puramente pagã em uma sociedade que se diz cristã, parece impossível porque a ignorância e a inconsciência sentem prazer em aumentar a corrupção social.

O carnaval é o esquecimento dos deveres impostos pela pureza de costumes; é a perda de compostura dos seres civilizados, que procuram a ruína e a morte em dias e noites de loucuras.

Nesses dias de efêmero prazer, “a razão se turba, as paixões se despertam, todos os sentimentos nobres adormecem”; despreza-se a moral em que se funda a doutrina do Cristo.

É a época em que as pessoas se mascaram para se desmascarar, isto é, para mostrarem aquilo que realmente são: - homens e mulheres de caráter putrefato.

É, pois, um dever inalienável de todo homem que deseja ser honesto perante Deus, trabalhar por banir de nosso meio a festa que tem conduzido muitas pessoas à desgraça ou ao vício; festa contrária à moral, aos bons costumes; festa que só nos dá a prova de nossa fraqueza moral; festa que tem arruinado muitos homens, desfeito muitos lares, sacrificado muito honra, jogando as vítimas no lodaçal dos vícios.




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Kardec e os sinais dos tempos


1. São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da Humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da Natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações; a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis.

2. Tudo na criação é harmonia; tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas. Temos, pois, que afastar, desde logo, toda idéia de capricho, por inconciliável com a sabedoria divina. Em segundo lugar, se a nossa época esta designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto.

Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, esta submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante. Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens para isso concorrem pelos esforços de sua inteligência. Saneiam as regiões insalubres, tornam mais fáceis as comunicações e mais produtiva a terra.

De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma, lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade. Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo, fatais em seu conjunto, porque estão sujeitos a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua, às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça ou a uma nação, doutras vezes, de modo geral.

O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da Natureza são obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Quando, por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita. [...]

Consulte o original em: ALLAN KARDEC. Sinais dos tempos. In: _____. A gênese. Cap. XVIII – Os tempos são chegados. Tradução de Guillon Ribeiro.  Rio de Janeiro: FEB, [s.d.].

sábado, 21 de janeiro de 2012

Trava-se a Grande Batalha


Meus filhos:

Permaneça conosco a paz do Senhor!

Vivemos o abençoado momento das definições no mundo, quando o planeta de provas e expiações, estertorando, transita para o mundo de regeneração.

Convulsões internas e desafios externos acumulam-se em toda parte.

As dores acerbas convidam as criaturas humanas, ricas de ciência e de tecnologia, às provas de amor, às reflexões profundas em torno dos objetivos essenciais da existência humana.

Anunciadas desde os dias gloriosos do Senhor entre nós, cantando as grandezas do Seu Evangelho, tornam-se realidade neste período, quando os cristãos novos são convocados às definições exaradas na Sua palavra libertadora.

É compreensível que o fato aflitivo conduza os sentimentos, algo estiolados, ao desespero, por falta de resistência moral de alguns dos encarregados da preparação da Era Nova. Nada obstante, é em momento desta natureza, que se podem avaliar os legítimos valores do caráter, da personalidade do ser interior.

O Espiritismo veio para, no momento grave das dores, consolar as almas aturdidas. Não somente, porém, para enxugar-lhes o pranto e o suor, mas principalmente para apontar-lhes a via de segurança para alcançar o objetivo libertador.

Quando o Mestre prometeu o Paracleto, asseverou que ele enxugaria as lágrimas. Entretanto, traçaria roteiros novos e apresentaria formulações desconhecidas, repetindo as lições originais, e Allan Kardec, o vaso escolhido, desincumbiu-se da nobre tarefa coroado pelo sacrifício, pela abnegação e pela entrega total.

Passaram-se mais de 150 anos desde as primeiras clarinadas de luz, e nesse período surgiram as dificuldades, os problemas humanos somados às necessidades da evolução ante o programa de iluminação de consciências.

Tendes compreendido que se torna necessária a entrega pessoal com todo amor ao trabalho de dignificação humana.

Já demonstrastes a fidelidade possível ao labor designado pelo Mestre incomparável…

Conduzindo a Terra aos sublimes páramos, permaneceis conscientes das responsabilidades que vos dizem respeito, e vindes desincumbindo-vos do compromisso com a retidão possível e, portanto, indispensável.

Permaneceis fiéis, mesmo sob as chuvas de calhaus, de infâmias e de dificuldades que se transformam em tempestades ameaçadoras...

É necessário confiar, sem que o desânimo tome conta dos vossos ideais.

Jesus confia em nós na razão direta em que nos entregamos ao Seu comando.

Se, sob um aspecto, as dores apresentam-se mais terríveis do que antes, por outro lado, a claridade do Evangelho já oferece a alegria de proporcionar a antevisão dos porvindouros dias.

Mantende a chama da fraternidade acesa nos corações a qualquer preço da verdade e do entusiasmo, a fim de que os enfraquecidos na luta retemperem o ânimo e prossigam, mesmo que tenham os joelhos desconjuntados.

Reuniões como estas devem repetir-se amiúde, para que quaisquer problemas sejam equacionados por intermédio da comunhão fraternal e do direcionamento para o Bem.

É natural que, muitas vezes, surjam divergências opinativas que se não devem constituir motivo de dissensão pessoal.

Cada criatura tem uma percepção muito especial, que lhe corresponde ao nível de evolução, e é compreensível que não veja de maneira igual aquilo que outros conseguem observar.

Somente marchando de mãos dadas pela trilha segura do Evangelho de Jesus é que conseguireis conduzir o rebanho, ainda esparramado, na direção do Pastor.

Comprometestes-vos antes do berço realizar este labor de alta magnitude para o futuro da Humanidade. Deveis, portanto, executar o trabalho avançando com toda a dedicação possível, mesmo que, muitas vezes, apresenteis a alma dorida e os sentimentos despedaçados pela injúria, pela perseguição gratuita, pelos adversários da luz...

Apresentai-O, meus filhos da alma, em toda a Sua grandeza refletiva no vosso exemplo de abnegação e de amor.

Em dia não muito distante, desfraldando ainda a bandeira da paz, podereis sorrir observando o campo de batalha, não mais juncado de cadáveres sangrando, mas de Espíritos vitoriosos sobre as paixões dissolventes, cantando a glória da imortalidade.

Que o Senhor de bênçãos vos abençoe a todos, são os votos do servidor humílimo e paternal e dos Mentores do trabalho em execução nos diferentes países que constituem o Conselho Espírita Internacional!

Muita paz, meus filhos, com todo o carinho do amigo de sempre,

Bezerra

(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 28 de outubro de 2011, em Maia, Portugal, durante o encerramento da reunião da Coordenadoria do Conselho Espírita Internacional da Europa. Publicado originalmente em: REFORMADOR, dez. 2011, p. 35)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Tim e Vanessa: "Aurora"



Uma grande noite abate a Terra, que se abate.
Treva imensa, não sem estrelas...
Passados milênios, um abrasamento
tisna o horizonte clareando esperança.
Prenúncio milenar do amanhecer.


Bem-vinda, Aurora
A terra sofreu noites convulsivas
Verteu lágrimas, rangeu dentes
Mas gestou-se, majestou-se
No parto regenerativo deu-se à luz
Na Remissão

Bem-vinda, Aurora
O lobo pasta junto ao cordeiro
Crianças brincam com a serpente
E os anjos andarilham
Com os homens que volitam
No amor da Promissão

Bem-vinda, Alvorada
Artefazendo o belo bom
Entreflorindo olhar
A aliança homem-Deus
Já não é só arco-íris
É comunhão

Bem-vindo, dia
Bem-vinda, Luz
Bem-vindo, dia,
Bem-vinda, Luz
Bem-vinda, Aurora,
Bem-vinda, Luz
Bem-vinda, Alvorada 


Acesse o site dos artistas: http://www.timevanessa.com.br/

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Carnaval: o alerta de Emmanuel!


Nenhum espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências, nas festas carnavalescas.
É lamentável que, na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com o título de civilização. Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.
Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.
Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifiquem o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.
Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos, na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho.
Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas opiniões, colaborando conosco, dentro das suas possibilidades, para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.
É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloqüente atestado de sua miséria moral.

(Carnaval. Psicografia de Chico Xavier, julho de 1939. REVISTA INTERNACIONAL DE ESPIRITISMO, jan. 2001.)


domingo, 15 de janeiro de 2012

Era de Luz (Alexandre Paredes)



É final, sinal de uma nova era que virá
Herdará a nossa Terra quem tiver no coração
A mansidão, o bem e o amor
Deixar para trás a dor e a ilusão
O último bonde vai passar
Levando quem não tiver em si
A Era de Regeneração


Da escuridão nasce uma estrela
É nossa Terra de amanhã
Deixa eu contar, não há nenhum segredo
Busca a luz quem quer a luz


Toda luz nasceu um dia em meio às trevas
Se hoje a dor parece mais forte
É porque espera de todos nós
A decisão de renovação
Plantar a semente viva do amor
Da tempestade nasce a flor
E sem alarde há de surgir
O bem a verdade, a paz e a luz


Da escuridão nasce uma estrela
É nossa Terra de amanhã
Deixa eu contar, não há nenhum segredo
Busca a luz quem quer a luz

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


CARNAVAL: Atrás do trio-elétrico também vai quem já “morreu”

Ao contrário do que reza o frevo de Caetano Veloso, não são somente os “vivos” que formam a multidão de foliões que se aglomera nas ruas das grandes cidades brasileiras ou de outras plagas onde se comemore o Carnaval. O Espiritismo nos esclarece que estamos o tempo todo em companhia de uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. Essa massa de espíritos cresce sobremaneira nos dias de realização de festas pagãs, como é o Carnaval. Nessas ocasiões, como grande parte das pessoas se dá aos exageros de toda sorte, as influências nefastas se intensificam  e muitos dos encarnados se deixam dominar por espíritos maléficos, ocasionando os tristes casos de violência criminosa, como os homicídios e suicídios, além dos desvarios sexuais que levam à paternidade e maternidade irresponsáveis. Se antes de compor sua famosa canção o filho de Dona Canô tivesse conhecido o livro “Nas Fronteiras da Loucura”, ditado ao médium Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, talvez fizesse uma letra diferente e, sensível como o poeta que é, cuidaria de exortar os foliões “pipoca” e aqueles que engrossam os blocos a cada ano contra os excessos de toda ordem. Mas como o tempo é o senhor de todo entendimento, hoje Caetano é um dos muitos artistas que pregam a paz no Carnaval, denunciando, do alto do trio elétrico, as manifestações de violência que consegue flagrar na multidão.

No livro citado, Manoel Philomeno, que quando encarnado desempenhou atividades médicas e espiritistas em Salvador, relata episódios protagonizados pelo venerando Espírito Bezerra de Menezes, na condução de equipes socorristas junto a encarnados em desequilíbrios.

Philomeno registra, dentre outros pontos de relevante interesse, o encontro com um certo sambista desencarnado, o qual não é difícil identificar como Noel Rosa, o poeta do bairro boêmio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, muito a propósito, integrava uma dessas equipes socorristas encarregadas de prestar atendimento espiritual durante os dias de Carnaval. Interessado em colher informações para a aprendizagem própria (e nossa também!), Philomeno inquiriu Noel sobre como este conciliava sua anterior condição de “sambista vinculado às ações do Carnaval com a atual, longe do bulício festivo, em trabalhos de socorro ao próximo”. Com tranqüilidade, o autor de “Camisa listrada” respondeu que em suas canções traduzia as dores e aspirações do povo, relatando os dramas, angústias e tragédias amorosas do submundo carioca, mas compreendeu seu fracasso ao desencarnar, despertando “sob maior soma de amarguras, com fortes vinculações aos ambientes sórdidos, pelos quais transitara em largas aflições”.

No entanto, a obra musical de Noel Rosa cativara tantos corações que os bons sentimentos despertados nas pessoas atuaram em seu favor no plano espiritual; “Embora eu não fosse um herói, nem mesmo um homem que se desincumbira corretamente do dever, minha memória gerou simpatias e a mensagem das musicas provocou amizades, graças a cujo recurso fui alcançado pela Misericórdia Divina, que me recambiou para outros sítios de tratamento e renovação, onde despertei para realidades novas”. Como acontece com todo espírito calceta que por fim se rende aos imperativos das sábias leis, Noel conseguiu, pois, descobrir “que é sempre tempo de recomeçar e de agir” e assim ele iniciou a composição de novos sambas, “ao compasso do bem, com as melodias da esperança e os ritmos da paz, numa Vila de amor infinito...”.

Entre os anos 60 e 70, Noel Rosa integrava a plêiade de espíritos que ditaram ao médium, jornalista e escritor espírita Jorge Rizzini a série de composições que resultou em dois discos e apresentações em festivais de músicas mediúnicas em São Paulo. O entendimento do Poeta da Vila quanto às ebulições momescas, é claro, também mudou: “O Carnaval para mim, é passado de dor e a caridade, hoje, é-me festa de todo, dia, qual primavera que surge após inverno demorado, sombrio”.

“A carne nada vale”. O Carnaval, conforme os conceitos de Bezerra de Menezes, é festa que ainda guarda vestígios da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre os encarnados, marcado pelas paixões do prazer violento. Como nosso imperativo maior é a Lei de Evolução, um dia tudo isso, todas essas manifestações ruidosas que marcam nosso estágio de inferioridade desaparecerão da Terra. Em seu lugar, então, predominarão a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real, com o homem despertando para a beleza e a arte, sem agressão nem promiscuidade. A folia em que pontifica o Rei Momo já foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnalia e nessas ocasiões se imolava uma vítima humana.

Na Idade Média, entretanto, é que a festividade adquiriu o conceito que hoje apresenta, o de uma vez por ano é lícito enlouquecer, em homenagem aos falsos deuses do vinho, das orgias, dos desvarios e dos excessos, em suma.

Bezerra cita os estudiosos do comportamento e da psique da atualidade, “sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e recalques nesses dias em que a carne nada vale, cuja primeira silaba de cada palavra compõe o verbete carnaval”. Assim, em três ou mais dias de verdadeira loucura, as pessoas desavisadas, se entregam ao descompromisso, exagerando nas atitudes, ao compasso de sons febris e vapores alucinantes. Está no materialismo, que vê o corpo, a matéria, como inicio e fim em si mesmo, a causa de tal desregramento. Esse comportamento afeta inclusive aqueles que se dizem religiosos, mas não têm, em verdade, a necessária compreensão da vida espiritual, deixando-se também enlouquecer uma vez por ano.

Processo de loucura e obsessão. As pessoas que se animam para a festa carnavalesca e fazem preparativos organizando fantasias e demais apetrechos para o que consideram um simples e sadio aproveitamento das alegrias e dos prazeres da vida, não imaginam que, muitas vezes, estão sendo inspiradas por entidades vinculadas às sombras. Tais espíritos, como informa Manoel Philomeno, buscam vitimas em potencial “para alijá-las do equilíbrio, dando inicio a processos nefandos de obsessões demoradas”. Isso acontece tanto com aqueles que se afinizam com os seres perturbadores, adotando comportamento vicioso, quanto com criaturas cujas atitudes as identificam como pessoas respeitáveis, embora sujeitas às tentações que os prazeres mundanos representam, por também acreditarem que seja lícito enlouquecer uma vez por ano.

Esse processo sutil de aliciamento esclarece o autor espiritual, dá-se durante o sono, quando os encarnados, desprendidos parcialmente do corpo físico, fazem incursões às regiões de baixo teor vibratório, próprias das entidades vinculadas às tramas de desespero e loucura. Os homens que assim procedem não o fazem simplesmente atendendo aos apelos magnéticos que atrai os espíritos desequilibrados e desses seres, mas porque a eles se ligam pelo pensamento, “em razão das preferências que acolhem e dos prazeres que se facultam no mundo íntimo”. Ou seja, as tendências de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são o imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do desequilíbrio, o qual, em suma, não existiria se os homens se mantivessem no firme propósito de educar as paixões instintivas que os animalizam.

Há dois mil anos. Tal situação não difere muito dos episódios de possessão demoníaca aos quais o Mestre Jesus era chamado a atender, promovendo as curas “milagrosas” de que se ocupam os evangelhos. Atualmente, temos, graças ao Espiritismo, a explicação das causas e conseqüências desses fatos, desde que Allan Kardec fora convocado à tarefa de codificar a Doutrina dos Espíritos. Conforme configurado na primeira obra da Codificação – O Livro dos Espíritos -, estamos, na Terra, quase que sob a direção das entidades invisíveis: “Os espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?”, pergunta o Codificador, para ser informado de que “a esse respeito sua (dos espíritos) influência é maior do que credes porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem”. Pode parecer assustador, ainda mais que se se tem os espíritos ainda inferiorizados à conta de demônios.

Mas, do mesmo modo como somos facilmente dominados pelos maus espíritos, quando, como já dito, sintonizamos na mesma freqüência de pensamento, também obtemos, pelo mesmo processo, o concurso dos bons, aqueles que agem a nosso favor em nome de Jesus. Basta, para tanto, estarmos predispostos a suas orientações, atentos ao aviso de “orar e vigiar” que o Cristo nos deu há dois mil anos, através do cultivo de atitudes salutares, como a prece e a praticada caridade desinteressada. Esta última é a característica de espíritos como Bezerra de Menezes, que em sua última encarnação fora alcunhado de “o médico dos pobres” e hoje é reverenciado no meio espírita como “o apostolo da caridade no Brasil”.
In: Revista Visão Espírita, Ano 2 (2000), n. 20, p. 22-24.